POEMA DO IRMÃO SATANÁS

Lembro-me bem: eu era uma criança
Calada e triste, sem saber por que.
Menino, às vezes, pensa. E também vê
Que é triste o carnaval da vizinhança.

Em minha paz de criança pessimista,
Desconfiada de risos e festinhas,
Ninguém sabia ler as mágoas minhas
Naquele isolamento fatalista.

Um dia, eu fui com meus irmãos à igreja,
E um padre perturbou a minha paz:
Ele falou de um certo Satanás
Que as almas brutaliza e mercadeja.

Mas falou com uma raiva tão bravia
Do diabo vil, com um coração de pau,
Que eu perguntei à minha avó Maria:
- Será que o Diabo é mesmo assim tão mau?

E Lúcifer, com todo o seu quartel,
Me preocupou, de fato, muitos anos:
Quis, até, devassar os seus arcanos,
Aprofundando a história de Lusbel.

Mais tarde,  eu lia a Bíblia, de manhã -
E são 66 livros ou partes - 
Para surpreender todas as artes
Daquele infernalíssimo Satã.

Até que, um dia, o Novo Testamento
Me revelou, na sua estranha luz,
O Sermão da Montanha, de JESUS, 
Que não me saiu mais do pensamento.

Fiquei pasmado, oh! sim, perante aquelas
Palavras da miserícórdia-mór!
E tanto as li que, até hoje, sei de cor
Estas palavras mansamente belas:

- Bem-aventurados os humildes, porque deles é 
o reino do céu.
- Bem-aventurados os que choram, porque eles
serão consolados pelo próprio Deus.
- Bem-aventurados os pacientes, porque possuirão
a terra.
- Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque terão o amparo da justiça divina.
- Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles
alcançarão misericódia.
- Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles
verão Deus face a face.
- Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
- Bem-aventurados os que são perseguidos por causa
da Verdade, porque deles é o reino do céu.
- Bem-aventurados sois vós quando vos perseguem,
quando vos injuriam e, mentindo, fazem todo mal contra
vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque
é grande o vosso galardão no céu.

OUVISTE QUE FOI DITO:
AMARÁS TEU AMIGO
E ODIARÁS TEU INIMIGO.
EU, PORÉM, VOS DIGO:
AMAI ATÉ MESMO AOS VOSSOS INIMIGOS;
BEMDIZEI ÀQUELES QUE VOS MALDIZEM;
FAZEI BEM ÀQUELES QUE VOS ODEIAM;
ORAI POR TODOS AQUELES
QUE VOS PERSEGUEM E MALTRATAM. . .

Nessa altura, já entrara em minha vida
- E lhe fiz um cordial salamaleque -
A obra portentosa de Kardec, 
A jorrar luz na Bíblia envelhecida.

Na grande Metapsiquica dos sábios,
Que estudam essas coisas sem rituais,
Algumas perguntinhas, bem banais,
Naturalmente vieram aos meus lábios:

- Se DEUS sempre é perfeito no que faz,
E nada do que fez ao mal destina, 
Por que odiarmos nós a Satanás,
Se ele, também, é criação divina?

- E, se JESUS nos veio esclarecer
Que amássemos até "ao inimigo", 
Por que não transformar num bom amigo
A Satanás, em vez de o combater?

Amigos meus, oremos por Satã,
Amêmo-lo de todo o coração,
E respondamos sempre com o perdão
Aos males que nos faça, hoje e amanhã.

E, um dia, todos nós iremos ver
Satanás redimido, a trabalhar
Por aqueles que veio tresmalhar
Dos rebanhos do CRISTO, e reviver!

Porque se assim, amigos, não quiserem, 
Aqueles que se chamam "os cristãos",
Lavemos, desde já, as nossas mãos,
Ante as iniquidades que fizerem.

Por mim, com honra, eu amo Satanás,
Meu pobre irmão perdido nos infernos,
Com este amor dos sentimentos ternos,
Para que ele, também, receba a paz. 
                                     
      

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