(7ª parte)
POEMA DO SENHOR DOS EXÉRCITOS
Senhor! Já que ordenaste lealdade
Àqueles que te buscam de alma pura,
Aqui da minha solidão obscura
Quero falar-te com siceridade.
Para o homem, o problema religioso
- O das origens e finalidades
Da nossa e das demais humanidades -
É o maior, o mais sério e tenebroso.
Pois há coisas difíceis de aceitar
Nesta sagrada Bíblia edificante!
E visto que, Senhor, sou protestante,
Desejo humildemente protestar.
Longe de mim cair em heresia
Por um simples capricho atrabiliário:
Mas, a crer num Jeová totalitário,
Prefiro a execração da apostasia.
Sereno, pois, eu te ergo a minha prece,
Na certeza de que me perdoarás
Qualquer observação menos sagaz,
Que só o mestre tempo me esclarece.
Senhor, não creio que este Livro Santo
Tenha, todo ele, inspiração divina,
Porque tua santíssima doutrina
Não pode rebaixar-se tanto e tanto!
Se aos povos todos amas, com efeito,
Na equidade da tua perfeição,
Por que essa escandalosa proteção
Aos filhos de Israel - o povo eleito?
Se "o dogma é uma verdade revelada
Aos eleitos de DEUS", é indiscutível:
Tens uma casta privilegiada
A submeter a "plebe desprezível".
Se disseste "crescei, multiplicai-vos"
A Eva e Adão, em teu bíblico texto,
Sancionaste, ipso facto, o mal do incesto,
De que hoje inda perduram tristes laivos.
Se eternas são as leis da Natureza,
Se eternas são as tuas leis de escol,
Como pôde, num rasgo de grandeza,
O velho Josué parar o sol?
Se aquele mandamento "não matar"
Do teu divino amor é santo eflúvio,
Como é que poderias num dilúvio
Seus desgraçados filhos afogar?
Se JESUS ensinou aos bons cristãos
Que a perfeição maior está no amar,
Como pôde, no templo, chicotear
Vendilhões ignorantes, mas irmãos?
A coisa mais lógica, meu DEUS,
Que a fé dos cristãos míopes refutar
Fatos concretos, e justificar
Contradições na Bíblia dos hebreus?
Por que tantos anátemas ao sexo,
Nos púlpitos de todos os países,
Se os seus truculentíssimos juízes
Nada entendem de assunto tão complexo?
(Neste particular, nego as verrinas
De Salomão, nas suas preleções.
Porque teve, apesar de seus sermões,
Mil mulheres e belas concubinas).
Como explicar pecados e defeitos,
Contra os quais os doutores deblateram,
Se os homens e as mulheres que adulteram
À tua semelhança foram feitos?
É por tudo isto (e muita coisa mais
que eu posso discutir com equilíbrio)
Que a ciência desmascara esse ludíbrio
Em que chafurdam crédulos mortais.
Não posso concordar com tais parlendas
Que difundem tamanhas inverdades:
Se a Bíblia tem muitíssimas verdades,
Tem, também, suas fábulas e lendas.
Por outro lado, ó Deus, se a vida é bela,
Tem tanta coisa trágica e tão séria!
Por que hás de permitir tanta miséria,
Se te é tão fácil acabar com ela?
Senhor, Há tantas coisas incoerentes!
Tu, que és do mundo o criador e dono,
Por que deixas que morram, no abandono,
Milhares de criancinhas inocentes?
Perdão, meu Pai, pelo que digo aqui,
Eu te suplico em nome do teu Cristo;
Mas quero que me expliques tudo isto:
Pois, do contrário, eu não crerei em tí!
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